Tuesday, March 13, 2007






Hoje apetece-me mostrar-vos uma realidade da cidade das transformações constantes, que por acaso se passa na minha rua. Ora bem, o local ao fundo da rua que se vê na imagem era o meu local de trabalho, o "edificio dos seminários" - assim muito rascamente traduzido. Repare-se que tiro a foto à entrada da minha porta, logo está-se a ver porque gosto de trabalhar aqui...3 minutos da cama à sala de aula. Pois,´mas esses dias de mordomia acabaram-se: agora terei de andar uns 7,8 minutos a pé até aos novos edificios de aulas (provisórios!).




Aqui nesta Grimmaische Strasse houve antes do final da II Guerra Mundial uma igreja, a Paulinerkirche, aquela que sendo uma das relíquias que saiu intacta dos bombardeamentos dos Aliados e já contava existência desde a Idade Média no centro de Leipzig (Augustuplatz é mesmo aqui ao lado!), foi literalmente implodida - esta palavra soará muito estranha à nossa realidade tão pacífica e sem grandes construções e destruções - à parte das naturais, mormente das decorrentes do terramoto de 1755 em Lisboa, o que para gente do norte não conta!!... e voltando à história, a implosão da igreja teria que ver com a implantação do comunismo, algum ideal não compreendido por mim - uma vez que os de esquerda até são a favor da cultura e da cultura para todos. Mas talvez por se estar na iminência de se criar um estado não religioso, com gente não crente ou pelo menos sem ligações ao divino como ainda hoje encontram grande espelho nesta sociedade - como digo, talvez - implodiram-na juntamente com obras de arte antiga muito valiosas. Criaram o edifício principal da Universidade, o quartel da ciência, com uma grande imagem de Karl Marx voltada para Augustusplatz - possivelmente para contrastar com a divina casa de Deus anterior. Hoje o que querem fazer é reconstruir a igreja, em moldes semelhantes mas totalmente contemporâneos no espaço da universidade, para talvez integrar o divino e o científico na aprendizagem do simples humano em ser. Leipzig tem destas coisas! mas como digo, talvez...!







e olhem como se trabalha! em poucos dias, alguns que sairam de férias ficaram surpreendidos com as novidades que Leipzig traz no ventre! E aqueles que cá ficaram, como se pode ver também na fotografia não cessam a sua estupefacção e observam sem pudor e demoradamente o que passa na rua...que afinal é deles!





À direita ainda se vê um pouco de como era o edificio onde eu trabalhava e pouco do enquadramento arquitectónico da rua... à esquerda, mais alguns saudosistas ou espantados - há destes espécimes por todo o canto da cidade (há obras para muitos anos...!)











Por último - hoje entusiasmei-me com as fotografias, aqui vemos a Torre da Universidade. Eu explico: na verdade, hoje em dia ela é a torre da MDR, um dos meios de comunicação, mormente um canal de televisão mais conhecidos na Alemanha, mas...e atenção que estamos na cidade onde tudo se transforma, esta torre era pertença da univiversidade, onde os escritórios dos professores tinham o seu assento (hoje em dia estáo a 20 mintutos a pé do centro, i.e. da porta da minha casa). A torre tem a forma de um livro aberto para lembrar o nobre passado deste edificio - depois de vários olhares sobre o mesmo, chega-se a uma conclusão de que essa tese é possível!É a mais alta torre de Leipzig e no topo há um restaurante e um café, donde se pode ver toda a cidade com uma panorâmica vista a 360º!
bem, por hoje sobre Leipzig é tudo.

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Monday, March 05, 2007

Perguntaram ao Dalai Lama:
"O que mais te surpreende na Humanidade?"
Ele respondeu:
"Os homens... porque perdem a saúde para juntar dinheiro,
depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro,
esquecem o presente de tal forma
que acabam por não viver
nem o presente nem o futuro.
E vivem como se nunca fossem morrer...
e morrem como se nunca tivessem vivido.

Manuel Alegre, Rafael, fala das aventuras e desventuras do eu, não de um eu qualquer, mas de um eu com utopia, que dela se nutriu no tempo da organização da revolução, uma contracultura portuguesas com ramos em toda a parte e nenhures. Os portugueses não são unidos e como não o foram também no exílio. Cita muitos autores, artistas, pintores, políticos, filósofos ora em diálogo com eles, ora em monólogo, como eles espelham a sua alma, a alma de Rafael, que tanto se confunde com ele próprio, uma autobiografia, por certo. Fala das mulheres, da convicção de que elas são o futuro do homem, da sua emancipação. Fala do amor. O amor não só por elas, entre elas e eles. Mas o amor a uma causa. Fala dos momentos históricos que atravessaram o tempo do seu exílio: a guerra de libertação argelina, o Prager Frühling e toda a revolução de 68. os estudantes portugueses, muito diferentes, um passo para lá dos normais portugueses emigrantes, que vivem em biddonvilles em França. Tão diferentes e tão iguais, A contradição da alma de Alegre é totalmente revelada, às vezes na leitura pergunto-me se ele já esteve louco. Claro que é natural de todo e qualquer poeta, viajante e apátrida na incompreensão que seja assim visto por quem não compreende a totalidade dos sentimentos de um ou outro, mas acima de tudo quando estes sentimentos enformaram a pátria portuguesa exilada – e quem sabe se todos os exilados, figuras do romance, assim se sentirão; ele fala de como eles também se incompreendiam. Às vezes até profético, nos diálogos entre os revolucionários, previu o que hoje é Portugal e talvez na sua incompletude, nessa sensação um tanto frustrada de quem fez uma revolução, sonhou e pensou mais do que na realidade vive, acaba o romance dizendo que vai sempre para Portugal, vai em direcção a Lisboa por vias tortas, como o Destino que Deus legou aos homens e no qual eles têm de acreditar, como se ainda não lá tivesse chegado. Se a mensagem é para os jovens como ele próprio já disse acerca deste romance, acho que a percebi – a utopia é necessária em Portugal, “país quietinho”. Mais do que um político, um ser humano, metafísico, ou que assim se compreende, entre espaços, tempos e mesmo assim um todo, tão uno, como só um ser caminhante para o seu objectivo de vida. Ainda hoje. Isto é poesia de ser português, e é a mensagem que ele espera passar a todos, com base na sua experiência de vida, de observador e agente empenhado. Com sentimentos.

Gostei, apesar do "eu não sou eu", "um estrangeiro em mim próprio" e de tantas contradições constantes nas linhas do texto,...mais ao gosto de um poeta do que de um romancista. Quem no entanto nãos e sentiu já assim?