Monday, March 05, 2007

Manuel Alegre, Rafael, fala das aventuras e desventuras do eu, não de um eu qualquer, mas de um eu com utopia, que dela se nutriu no tempo da organização da revolução, uma contracultura portuguesas com ramos em toda a parte e nenhures. Os portugueses não são unidos e como não o foram também no exílio. Cita muitos autores, artistas, pintores, políticos, filósofos ora em diálogo com eles, ora em monólogo, como eles espelham a sua alma, a alma de Rafael, que tanto se confunde com ele próprio, uma autobiografia, por certo. Fala das mulheres, da convicção de que elas são o futuro do homem, da sua emancipação. Fala do amor. O amor não só por elas, entre elas e eles. Mas o amor a uma causa. Fala dos momentos históricos que atravessaram o tempo do seu exílio: a guerra de libertação argelina, o Prager Frühling e toda a revolução de 68. os estudantes portugueses, muito diferentes, um passo para lá dos normais portugueses emigrantes, que vivem em biddonvilles em França. Tão diferentes e tão iguais, A contradição da alma de Alegre é totalmente revelada, às vezes na leitura pergunto-me se ele já esteve louco. Claro que é natural de todo e qualquer poeta, viajante e apátrida na incompreensão que seja assim visto por quem não compreende a totalidade dos sentimentos de um ou outro, mas acima de tudo quando estes sentimentos enformaram a pátria portuguesa exilada – e quem sabe se todos os exilados, figuras do romance, assim se sentirão; ele fala de como eles também se incompreendiam. Às vezes até profético, nos diálogos entre os revolucionários, previu o que hoje é Portugal e talvez na sua incompletude, nessa sensação um tanto frustrada de quem fez uma revolução, sonhou e pensou mais do que na realidade vive, acaba o romance dizendo que vai sempre para Portugal, vai em direcção a Lisboa por vias tortas, como o Destino que Deus legou aos homens e no qual eles têm de acreditar, como se ainda não lá tivesse chegado. Se a mensagem é para os jovens como ele próprio já disse acerca deste romance, acho que a percebi – a utopia é necessária em Portugal, “país quietinho”. Mais do que um político, um ser humano, metafísico, ou que assim se compreende, entre espaços, tempos e mesmo assim um todo, tão uno, como só um ser caminhante para o seu objectivo de vida. Ainda hoje. Isto é poesia de ser português, e é a mensagem que ele espera passar a todos, com base na sua experiência de vida, de observador e agente empenhado. Com sentimentos.

Gostei, apesar do "eu não sou eu", "um estrangeiro em mim próprio" e de tantas contradições constantes nas linhas do texto,...mais ao gosto de um poeta do que de um romancista. Quem no entanto nãos e sentiu já assim?

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