Monday, April 09, 2007

Lê-se no expresso: Le Pen sugere masturbação feminina como contraceptivo

Desculpem, este senhor estará bom da cabeça? não tenho contra o acto em si, mas reduzir a natalidade assim, acho que não...pelo que percebo da coisa, acho que até pode aumentar as vontades de contribuir para aumentar a tal taxa!

Mas por outro lado, vejo o ponto dele, so to say: se a mulher está satisfeita e anda assim todos os dias, o país irá melhor de certeza - ela é a guardiã do lar, tudo o que ela sente e faz tem ecos estridentes em forma de rizoma social.

........boa páscoa para si também, Sr. Le Pen!

Sunday, April 08, 2007

Às vezes surpreendo-me. Nos últimos dois dias li três livros. Terminados, fico com mais vontade de ler mais e tantos outros, de tal modo que retirei todos os que me faltam ler na minha mini-biblioteca venho a fazer em Leipzig. Desde temas da saúde até às Mil e Uma Noites, passando por Ulisses de Joyce e o Kama Sutra, apenas texto – nada de imagens!!! – por livros em Inglês, a Short history of Nearly Everything do Bryson e o mais curioso de todos, ler escritores portugueses em Alemão. Sim, esta é uma ideia estranha, mas através da qual queria juntar o útil ao agradável, treinar alemão e ler pedaços importantes da história da literatura contemporânea portuguesa. Saramago e Lobo Antunes são dos tais que escolhi para tal experimento. Na verdade, comprei-os porque tinham a edição mais barata em alemão do que em Português. Enfim! Aí estão os meus próximos passos nas leituras. Para quando é que já não sei. Começa o semestre, começa a azáfama de organizar, ler e reler, traduzir e não falhar nada, acima de tudo isso.

Para me concentrar no universo, sentir-me um pontinho pequenino em movimento de translação sobre mim própria, dando a volta ao mundo sem sair de casa, li o Planisfério Pessoal do Gonçalo Cadilhe, em …pouco menos de 24 horas. Qual Júlio Verne, qual carapuça…? Nada de balão em 84 dias, qual Magalhães, para quem não sabe, o Magellan, uma viagem de circum-navegação à Terra, foi algo semelhante ao que Cadilhe fez, mas viajou também por terra, de autocarro – muito evoluído para um Fernão de Magalhães – na América Latina e na Ásia. Good Lord! Quem se lembra de fazer isto, é doido varrido, especialmente depois de ler o que se passou com o nosso português aventureiro.
Este Cadilhe, nada conhecido para mim, apesar de leitora do Expresso, às vezes não me recordo do nome do escritor da crónica, mas pelo vistos é o que faz e eis a meio da leitura do seu livro, abro o expresso online e o que leio nas crónicas da semana é uma crónica que só no final vi a coincidência de do nome do autor. Esta versava sobre separação e viagens, quem não conhece essa história de amor? Parece-me um homem interessante, que tenta lidar com a qualidade de ser simplesmente humano, um observador da vida, nada de grande actor. É actor nas suas aventuras, mas parece que sempre que há compromissos sérios com outro alguém a coisa já corre mal, pois imagine-se que um dia acorda e não consegue democraticamente levar a outra pessoa para os Himalaias? Deve ser de facto difícil viver com alguém assim, tão …étereo e ao senhor deve causar uma ansiedade enorme a constância de outra pessoa. Não sei porque estou a criticá-lo: talvez até seja um nadinha como ele.
Pergunto-me de facto o que se faz quando já se deu a volta ao mundo – eu ainda mal dei a volta à Europa, apesar de a conhecer bem e de pensar só dar um passo para fora dela após conhecer cada país, ou pelo menos ter a ideia que se pode de todos estes espectaculares bocadinhos tão fantasticamente diferentes, mas em que, no geral, se luta pela dignidade humana, ou pelo menos há quem o faça. Seria também preciso que todos lutassem por ela, começando pelo que dela precisam, que são aqueles sem esperança não enxergam que ela existe e que todos têm direito a ela. Depois havia que haver uma união política por essa dignidade, não uma união teórica, mas prática e incorruptível mesmo em face de qualquer eventual acordo economicamente mais proveitoso. Finalmente, após conseguido esse estádio, que novamente as gentes não se corrompessem e não fizessem baluarte das suas guerras, causas plásticas ou que sob essa capa plástica de luta, dela apenas queiram tirar proveito.
Este homem é um viajante como eu. Vi como um português se veria nos cinco cantos do mundo - não sei porque se insiste em dizer que o mundo tem quatro cantos? Então e a Oceânia? Custou-me que não tivesse dado um salto também a África, mas talvez já fosse demais. Gostei que tivesse ido a Malaca de que se sabe tão pouco, especialmente nós portugueses, e eles de nós também, nem onde ficamos no mapa, devem saber.
Achei acima de tudo que este homem é um sortudo: é pago para viajar, faz o que gosta, vê o patrão, imagine-se a julgar por esta viagem uma vez a cada 18 meses. Que maravilha! Também achei, ou pareceu-me, que passava pouco tempo nos sítios onde demorava tanto tempo a chegar, pelo que os momentos, dias e semanas passados nos cargueiros, lhe davam tempo de sobra de pensar sobre a vida, de se encontrar e reencontrar consigo próprio. Uma viagem, que para todos não só física, é espiritual, porque nos nos transforma - mesmo para quem não acredita em divindades - toma esses relevos quando se vê apenas mar e terra mal pavimentada, bruta, onde autocarros trilham espaços e gentes se encostam para garantir o seu lugar dentro do veículo.
Gostei que ele tivesse gostado do Irão. O meu tio viveu lá 3 anos, tive um vizinho em Saalfelden am Steinernen Meer, na Áustria, que era refugiado iraniano, fugido a pé de Teerão, donde tinha muitas saudades, e me contou, ao contrário do Gonçalo, poucas maravilhas. Mas sim, são gente extremamente educada. Se recuar uns poucos anos, também me lembro de uma iraniana, ou melhor auto-intitulada de persa, fugida a Khomeini, casada com um médico da mesma nacionalidade que havia morrido poucos meses antes, a viver em Flensburg, na Alemanha, para onde foi, refugiada. Tive um jantar com ela, além de muito saboroso, lindíssimo, em sua casa. Gostei desse espaço de Irão. Mas não deve ser o Irão de hoje em dia. Só hoje me apercebo da dureza que a vida desta mulher devia ser e do modo como ela estava a tentar reconstruir a sua vida sozinha, talvez com menos sentido, do que com o marido, companheiro de luta. Nem sei porque me lembro dela hoje, mas mando-lhe um abraço em pensamento. Compreendo-a agora. Acho que é sinal de maturidade minha – já não era sem tempoJ!


Estou um pouco revolucionária hoje, estive a ler também dois livros de Sepúlveda e fiquei com mais impressão ainda de que sou uma porra de uma sortuda em ser europeia. Eu sou fucking Europeia com muito gosto. Mas compreendo que os Sonhos do Sepúlveda só possam por isso ter lugar na América Latina, que é o continente pelo qual lutar. Na Europa temos a vida facilitada, mulheres, crianças, jovens, todos, inclusivamente corruptos, mas esses ainda que maus, são bonzinhos à beira de um Pinochet ou de qualquer dirigente latino-americano. Este é um homem que passa também a sua vida a viajar, ora pelo exílio, ora para continuar a busca das suas experiências de luta, pelo Greenpeace, por ex., é um homem de coração, entregue a uma causa, encontrou alguns companheiros pelo caminho, aqui, ali, mas sempre sozinho continua. Ora já se viu? Quem se entrega de coração, não deve encontrar completude no outro. Claro que é difícil. Ninguém é igualzinho a outro alguém. Fiquei a saber um pouco mais da terra de umas vizinhas de prédio, a Marta e a Sofi, que me falam muitíssimo do Chile e do que a Marta viveu enquanto estudante, claro, revolucionária e comunista contra Pinochet também. Com sonhos e O Poder dos Sonhos.
A história de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar mostra de um modo encantador como seres diferentes se podem entreajudar e entender, defender, comover-se, fazer-se amigos. Uma fábula contra o poder instituído, marcado pela lei do mais forte, mas a humildade e a caridade dos menos fortes de uns para os outros. Um por todos e todos por um, apesar das diferenças.

Tantas histórias para um domingo de Páscoa, um pouco cinzento, a ameaçar chover. Normalmente era assim também no Arco de Baúlhe, pelo que me lembro: a minha avó enfeitava com flores lilases a sua entrada para que a Cruz passasse por um caminho bonito e com vontade de abençoar aquela casa onde hoje estão a minha família, pais e tios, sem a minha avó. Às vezes também chovia e lembro-me de me molhar toda nas roupas novas especiais para a Páscoa, quando ia passear a pé até ao rio mais longínquo, o da Barca, chamava-se assim no tempo de Salazar, em que de noite a barca passava clandestinos para o lado de lá de Trás-os-Montes e de dia passava o pão da padeira e o peixe do peixeiro e as pessoas que trabalhavam, na outra banda.
Parece que me apetece hoje conversar, mas mais tarde terei visitas queridas de dois amigos, com os quais vamos festejar este dia de Páscoa, símbolo de esperança reencontrada e sonhos, de manter os sonhos vivos.

À tarde li ainda um livro de Nuno Félix da Costa, que esteve cá em Novembro passado e me deu este pequeno exemplar com um poema de Júdice, seu amigo, uma introdução sobre a vida do médico psiquiatra em coligação com Pessoa, um texto seu sobre o que o faz unir-se a Pessoa e as suas imagens monocromáticas, mas cheias de vida e cheias de uma PESSOA plural, em palimpsesto constante, a roda da vida ou a face dela nas várias vidas que a vida pode ter.

Ainda organizei um bocadinho da minha semana – ler papéis já previamente ordenados, perceber por onde começar este novo passo no meu crescimento existencial, que consiste no novo semestre.

E depois fui à missa, uma missa que nunca vi em Portugal, cheia de esperança e de palavras sábias. Gosto de ouvir este senhor padre, porque não me fala dogmaticamente, mas apela ao amor, fala de amor e mostra os caminhos do amor. De manhã, a máquina da roupa não funcionou e na salas das máquinas encontrei Manideepak (– será?) qualquer coisa que não consigo dizer melhor o seu nome. Vem da Índia e traz o seu filho, é linguista, hindu. Num inglês muito bom, trocámos umas palavras e combinámos até à missa às 5h. Portuguesmente, toquei-lhe à campainha a faltar 3 minutos para as 5h, mas apareceu-me a modos indianos, com uma camisinha comprida e solta, muito comfrotável para estar em casa a estudar. Claro, que já estaríamos a sair –diz-me ela. Lembrei-me logo do livro do Cadilhe, quando dizia que os autocarros, os cargueiros, tudo chegava atrasado, muitas vezes 3 horas! Por segundos, pensei que iria assim com aquela camisa até ao frio lá de fora, mas não – chegámos 10 minutos atrasados. A minha vizinha não fala Alemão, mas queria uma bênção pelo dia de Páscoa, celebra-o, como celebra o Natal. É a globalização, diz a linguista. Na missa, ouvimos falar de me trazer nada de novo como muitas vezes este padre me surpreende, gostei de sentir a minha vida a renovar-se. Estou finalmente no sítio certo, sinto-me bem aqui.

À noite, vou jantar com dois amigos. Acho que é uma Páscoa Feliz!

Tuesday, April 03, 2007

pensamento sobre um era uma vez um passado - ter variações de sentimentos e viver na serenidade ao mesmo tempo...isto faz sentido a alguém? é uma serenidade tão perfeita e tão etérea que não a consigo classificar, nem condenar. não sei como aconteceu cairmos numa serenidade que tantos ruídos esconde; ruídos inclui aquilo que não é dito, ou que fica por partilhar e que é tanto. nas relações, diz-se que o tempo é inimigo, que as desgasta. mas ainda prefiro pensar que ele é amigo, nos protege e nos leva aonde uma pontinha do nosso querer e outra pontinha de outra qualquer entidade abstracta ordena.

acho que as variações de sentimentos são neste sentido muito justas.