Tuesday, January 16, 2007

O aborto

Um pouco extemporâneo, mas uma vez que já tinha iniciado a falar sobre isto, a pensar o caso, a ler os jornais, a perceber a razão de um lado e de outro e a ter de tomar uma decisão, quando não em voto, em decisão-pixel, pelo menos...
Não me posso furtar a falar sobre isto, até porque tenho pensado sobre o voto com o qual não contribui a 11 fevereiro de 2006. No meu trabalho, em aulas de Português para Estrangeiros, Conversação, organizei uma espécie de debate. Na verdade, não pedia em primeiro lugar a opinião dos alunos, uma vez que a maioria possivelmente me diria que estaria de acordo, ou não teria grande densidade de opinião - julguei eu. Estamos afinal na Alemanha, onde o caso só se coloca apenas a nível moral, individual de cada um, semelhante ao que se pretende em Portugal, mas com uma diferença muito grande, espelhada naquela comum ideia feita "naõ é ´difícil ser-se generoso, quando se é rico". na verdade, as condições de partida de uma mulher que pretende abortar são neste país muito diferentes do que em Portugal. Aqui o valor financeiro de um ser humano, ao que muito se reduz o facto de muitos de terem de pospôr os filhos para mais tarde, é apenas uma questão de escolha, de optar por uma vida individual/individualista ou não, de optar por uma vida de mãe que não se pretende já. O dinheiro está aí em forma de subsídios para fomentar a natalidade, para não falar até do casamento. Quantas estudantes não tenho nas minhas aulas, que até o filho já me apresentaram?... e a creche que existe no edificio da universidade? Em Portugal ter um filho cedo é uma outra história. Não me venham com histórias de que temos e vamos conseguir chegar à Europa, porque da periferia não saímos tão cedo só porque despenalizamos o caso. A despenalização em si não é uma má teoria, ninguém quer que uma mulher sofra mais uma pena que a que já sente por optar pelo aborto; o que não se quer, é que seja liberalizado - e a nossa sociedade é muito perita em "liberalizar", acima de tudo distorcer a palavra, quer a escrita, quer a falada. as leis não existem em portugal e todos sabemos disso. O pior é que esta distorção é dúbia: nem se sabe muito bem, se se distorce porque se é "criminoso", se é porque não se percebeu bem. O analfabetismo ainda reina. Pois, assim também concordo que não. Mas a prática é bem outra!Do assinar de contratos com operadoras telefónicas a garantir que não se as trai durante 2,3 anos, mas com o fito da infidelidade na mira...conversas com psicólogos para compreender o que é afinal o aborto a poucos dias de ter de o decidir, serão tão fiéis como estes "casamentos" e talvez nem os próprios especialistas, de quem não duvido que com vontade queiram explicar o que é a vida, de contribuir para o avanço dos estádios da moralidade de cada um, se sentirão frustrados com a arredoma de vidro que um querer oculta.

Para "jogar" pelo seguro enquanto professora: quem partilha este trabalho comigo saberá pois quão desastroso pode ser em termos de resultado/objectivo do ensino-aprendizagem esta aula de conversação, se os alunos não contribuem com opinião nenhuma, se pior, o assunto não lhes suscita nenhuma ideia - enveredei pelo método em que cada parte da turma reflecte sobre as condições do porque sim e do porque não, após lhes explicar brevemente qual é a situação em Portugal. Claro que para as duas facções pudessem organizar os seus argumentos, era indispensável basearmo-nos em argumentos reais, que é o que pensávamos que um Portugal, à porta das eleições, faria com seriedade. Na pesquisa de textos/materiais para formar ambas as opiniões deparei-me com uma falta de informação inacreditável relativamente aos apoiantes do SIM ao aborto, de tal ordem que quase não encontrei, em fontes responsáveis pela mobilização da opinião pública, esclarecimentos sobre o porque Sim, devemos apoiar a despenalização do aborto. Em termos de razões, esclarecimento, campanha activa e de uma posição forte ganha na minha opnião e pelo que vi em sites de jornais e dos principais partidos políticos o Não.
Para mim, o Não faz cada vez mais sentido. Nunca pensei que assim fosse, mas acho que de facto e a julgar pela política simplista que sobre este tema se faz, cada vez votaria menos num sim tão pouco claro, tão desenrasca, fomentador de características portuguesas tais como a lassidão, a irresponsabilidade, um laissez-faire, laissez-passer que nos impedem de avançar, entre outros campos, no reflorescimento da economia. De facto, se esta economia estivesse bem ou, pelo menos, melhor, se as pessoas estivessem realmente interessadas em criar uma sociedade esclarecida, informada, activa e organizada, se mandassem os filhos para a escola e lhes falassem abertamente da vida sexual, se esses próprios homens e mulheres estivessem interessados em partir de uma "prevenção" para qualquer , talvez este problema nem se colocasse.

Agora, ganhou o Sim, estou expectante sobre se as minhas clarividências se desenvolvem. O que vai o governo português fazer com um conjunto de miúdos nas urgências, porque não tiveram dinheiro para comprar o preservativo, saíram tomaram uns copos, a pílula tem dias que se toma, dias que não, e se calhar, para a própria pílula do dia seguinte já passava das 72 h em que actua...não estou a falar de bairros e de pessoas menos esclarecidas - essas talvez até tenham os filhos como elas próprias concebidas, um pouco "ao Deus dará"...

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